sexta-feira, 26 de junho de 2009

Shall we dance?

Idealmente esta era uma mensagem que ele mandava depois do ensaio (sim ele tinha voltado a ensaiar, e isso fazia-lhe bem, dava-lhe confiança) enquanto ia para casa e enquanto imaginava que ela se estava a deitar mesmo ainda faltando muitas horas para isso. Ele gostava de imaginar que tudo se passava assim.

A mensagem era para ser lida apenas por uma parte dela. E que parte! A parte que queria ter tardes nos cafés a conversar e a falar de tudo e mais alguma coisa, a parte que o queria no quarto dela, perto dela, junto a ela, colado a ela, ele e ela. Era para a parte que queria passar noites com ele, viver o mundo com ele, aprender com ele, ser com ele, para a parte que queria ser mulher dele, amiga dele, companheira de ele, e nunca deixarem de ser ela mesma e ele mesmo.

Foi escrita, a mensagem, para a parte dela para quem o "bem" já não chegava, para a parte dela com quem ele queria dançar até acabar a noite e o dia e que houver pelo meio também. Era para essa parte porque ele e ela entendiam-se em tudo, eram bailarinos experientes de um tango que só eles sabiam dançar mesmo nunca o tendo feito. Ele não o sabia, mas sentia-o como se o visse. E a verdade é que via. Tantas vezes durante o dia não a via ele na sua imaginação? Não se deitava ele tantas vezes a pensar como aquele sorriso lhe tinha salvo o dia? E que dias! Nao sentia ele a falta dos poucos dias, horas talvez, em que tinham comungado de um desejo comum? Não que o desejo se tenha perdido. Oh não! Estava tão vivo, em cada gesto contido, cada desvio de olhar, cada não, estava escondido todo o desejo, a vontade de quebrar as barreiras inventadas e juntar pelo corpo o que já estava unido pelas almas.

Mas não existia apenas esta parte dela, havia também a outra, de que não vamos falar nesta história, e a outra apenas disse: "Pensei muito, e é melhor assim, sem nada". A parte que ele amava ainda ensaiou um "mas eu gosto de ti...", mas tudo o que se ouviu um "É melhor assim, não insistas. Por favor". Esta parte não sei explicar muito bem, nem ele sabia quanto mais eu. Ele disse-lhe só "Eu gosto de ti! Acho que não percebes, mas tens o mundo ao contrário..." e foi-se embora, na esperança que ela o agarrasse e não o deixasse ir. Nao o deixasse e lhe dissesse, lhe dissesse que tudo tinha sido uma parvoíce, um medo de arriscar, uma insegurança qualquer, que já tinha tudo passado, que estava tudo bem e que estava Sol. Sol! Por que ele e ela só se imaginavam ao Sol, Sois de Verão. 

Mas ela não veio. E ele foi. 

E assim, ele seguiu com a vida dele e ela com a dela. Um dia já não se viam há anos e anos, quando estavam a arrumar uma caixa velha de recordações, um ou outro, tanto faz, encontraram um bilhete: "Vamos dançar? :D". Levantaram-se, cada um ao seu ritmo, à sua maneira, lá no canto do mundo onde tinham ido parar, e lembraram-se de tudo e cada um deles perguntou para si, baixinho, com vergonha da resposta:


Porque é que não dançámos?

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