quarta-feira, 10 de junho de 2009

European Dream

Ele tinha nascido numa cidade média, filho da classe média, pai nas finanças, mãe professora, tinha dois irmãos e um cão. Em pequeno andou num infantário, seguiu-se um grande ciclo nas escolas públicas. A educação é a base de um homem dizem. Completados os anos básicos seguiu-se o ensino secundário.

Aí desenvolveu o interesse pelas pessoas, pelas outras linguas e culturas, envolveu-se nas associações de estudantes. Começou aí a ver que o mundo não era tão simples, que havia problemas, que existiam ideias contraditórias, que existiam soluções.

Seguiu-se a faculdade, queria novas experiências, conhecer o mundo. Fez novos amigos,

conheceu estudantes estrangeiros, falou com eles, também europeus, ficou curioso e quis saber como era viver noutro lugar. Apanhou um comboio e foi descobrir.

Nas suas viagens teve tempo para aprender cinco linguas novas, estudou política, direito e economia, medicina e religião. Foi a bares e discotecas, heteros e algumas gays, conheceu todos os monumentos, percorreu todas as ruas, falou com todas as pessoas que pode, ganhou-lhes respeito e foi respeitado pela sua simpatia e tolerância. Correu o Norte e o Sul, o Ocidente e o Leste, metro, comboio, autocarros foram para ele o quarto, a sala e o escritório.

Numa qualquer capital estrangeira com sotaque diferente da sua, encontrou alguém que o prendeu, alguém com sonhos e grandes planos como ele, alguém com desejo de saber mais e ver mais. Amou-a e lá acabou o curso.

Seguiu-se um regresso à terra, à sua cidade, agora tão acolhedora. A mãe recebeu-o a chorar, o pai, a custo, conseguiu evitá-lo com um abraço do tamanho do mundo. Descansou, aproveitou as mordomias de casa, mas já não era capaz. Parar era morrer, havia tanto para fazer!

Quando se vive no Mundo, nunca se deixa ninguém para trás, ele é redondo. Mais uma vez fez das carruagens casa e começou a organizar as suas ideias. Queria dar ao Mundo tudo o que ele lhe tinha dado. Uma consciência colectiva invadiu-o e teve necessidade de ser bom, de fazer bem, de procurar a excelência.

Decidiu juntar os amigos que tinha feito por essa Europa, tão diferentes, tão complementares. Arquitectos, padeiros, médicos, jornalistas, matemáticos, donos de bar, empresários, informáticos, músicos, escritores, toda uma juventude como ele, crescida entre nações e culturas, criada na tolerância e no entendimento. E assim se juntaram em consílio com o objectivo de mudar algo. Pensaram, estudaram, foram procurar a todo o lado, reuniram e reuniram, falaram com mais gente e finalmente estavam prontos.

Criaram um movimento, iam mudar a Europa. Eleições após eleições, aquele grupo, tão eclético, tão díspar nas suas origens e personalidades, foi-se fortificando. Tornaram-se numa força credível, os jovens europeus que acreditavam no potencial de todos. Ganhando aqui e ali, foram escrevendo artigos, fazendo filmes admitindo mais pessoas no seu seio. Um dia quando repararam eram mais de cem, a pensar, discutir, pintar, cantar escrever e realizar. As pessoas que os viam assim numa actividade tão intensa e com tanta certeza do seu rumo queriam juntar-se-lhes e assim foram crescendo.

Em toda a Europa se ouviu falar neles e jovens e mais velhos ganharam novo entusiasmo, e aplaudiram e ficaram atentos aos rádios e televisões e escreveram blogs e fizeram sementeiras e foram trabalhar com novo ânimo.

Eventualmente cada um se tornou o melhor na sua área, geração de ouro europeia, trabalharam e casaram, escreveram livros, alguns divorciaram-se, plantaram árvores, alguns foram morrendo, outros foram instruindo seguidores, foram mestres para discipulos interessados.
Foram o exemplo de muitas e muitas gerações que se seguiram, a Europa uniu-se sobre o seu legado, tiveram milhares nos seus funerais e honras de estado em todos os países.

Todos tiveram uma educação sólida, experimentaram a diversidade e a tolerância, conheram o mundo e as suas gentes, entraram no turbilhão de sensações que é a vida, aprenderam com tudo o que viram, levaram-se à excelência e viveram com a sabedoria de quem sabe o que quer e a alegria de quem sabe como o conseguir. Nunca foram excepcionalmente ricos.

3 comentários:

  1. Tás mesmo com vontade de ir fazer um inter-rail!

    E eu já tive que fazer um trabalho sobre esse quadro, n foi nada fácil...

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  2. A árvore da vida é tudo o que sei sobre ele.

    E sim, vou andar muito de comboio sem ser no suburbano xD

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