sexta-feira, 5 de junho de 2009

Todas as possibilidades



Existe à solta por aí uma brisa, a que alguns chamariam mágica e a que eu chamo cinematográfica, que parece inspirar momentos e pessoas. As multidões! Nunca se sentiram maravilhados com uma estação de comboios? Um aeroporto? Até uma paragem de autocarros? Que sitios... Milhares de pessoas, de destinos, de desejos, de ideias todas juntas nuns metros quadrados só. Todo o um mundo num lugar.



Nas estações tudo é possivel. Eu sinto-o.


É uma questão matemática. São tantas as variaveis que, se postas em contacto, o efeito é imprevissivel. Um dia o mundo será salvo num qualquer transporte público.


Atravessando todos os dias estações, há alturas em que sinto que o que me separa de uma aventura fantástica, de uma experiência sem igual, é apenas o pudor. Vivemos atolhados em pudor. Coisa terrivel o pudor. É ele que nos impede de ver a mais enfeitiçante mulher e de lhe dizer exactamente isso quando passamos por ela na rua. Impede-nos de perguntar por que raio é que aquele grupo de emos é um grupo de emos, de ir na rua e cumprimentar alguém apenas porque nos apetece. Quão encantador não seria para um qualquer intelectual virar-se para uma hippie sentada a um canto no chão, e assim, do nada, perguntar-lhe só: "O que achas do mundo?". Quantas hipoteses, quantas possibilidades não se abririam para ele, para ela, e, quem sabe, para o mundo?


Vivemos dentro de infinitos, uns maiores que os outros (novamente a matemática), e as nossas possibilidades púdicas são, diria, razoáveis. Agora tiremos o pudor. Falemos com o desconhecido com aquele ar estranho e intrigante, saciemos a nossa curiosidade, digamos a cada mendigo "um euro por uma história", arrisquemo-nos a conhecer o outro, o outro que nos fascina, que nos intriga e que nos atrai. Sejamos livres de pudores, livres de ser mais coisas, de ver mais e experimentar mais.Há nestes encontros casuais, nesta aleatoriedade total, visões da verdadeira existência, um toque mágico, ou cinematográfico, que nos eleva. E, de cima, vê-se sempre mais.




São nove da noite, na SIC dizem que morreu o David Caradine e eu hoje,só hoje, soube quem ele era às 11 da manhã. Também não sabia como acabar este texto.

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