segunda-feira, 15 de junho de 2009

Aprender a confiar

Estive quase quase a escrever uma entrada de seu nome "redenção" que trataria do problema que a História trás às nações. De como era bom que se perdesse um pouco do amor à memória passada e mais se ganhasse mais aos projectos correntes. Isto a propósito da constante atribuição de culpas passadas entre líderes que eram ainda recém-nascidos na época da ofensa. Acontece com os EUA, com a Rússia, com o Irão, com Israel, enfim acontece em todo o lado esta desconfiança sistémica que só nos impede de seguir em frente. Diz o nosso povo com todas os seus defeitos e sabedoria suada que águas passadas não movem moinhos, soubessem os grandes desse mundo ouvir às vezes a sra Genoveva de São Mamede de Ribatua e não se andavam aí a matar que nem tolos.

Ia eu a arrancar para minha escrita quando me deparei com uma pérola de um homem com quem não simpatizo muito, mas pareceu-me apropriado. Brindo com as palavras dele à sedução pela paz. Que bom nome para uma ONG...

"Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido."

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

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