sábado, 7 de maio de 2011

Obremos

Mais do que construir de novo, novos aeroportos, novas pontes, novas autoestradas, em Portugal e aqui no Porto, precisa-se, e muito, de apostar em renovar o que já existe. Escrevo isto enquanto olho para a Circunvalação, provavelmente uma das mais movimentadas artérias da cidade e, sem dúvida uma das mais caóticas também. A abarrotar de trânsito, pejada de entradas e saídas, os semáforos e passadeiras são um pesadelo tanto para peões como automobilistas. Não sei se já existe algum, às vezes estas coisas existem e não se conhecem ou então somos nós que andamos distraídos e não vemos, mas gostava de conhecer um projecto para melhorar a circunvalação. Talvez enterrá-la e fazer por cima uma área de lazer para os milhares de pessoas que vivem e trabalham naquela zona, isso é que era...

Continuando com o pensamento nas obras públicas, a linha de Leixões é outro óptimo exemplo (leio agora que se encontra, novamente, desactivada) de potencial sub aproveitado. Uma linha que unisse Ermesinde ao Hospital de São João e a toda zona universitária, e esta por sua vez a Leixões e toda a zona balnear, passando por áreas com bastante população como São Mamede e Leça do Balio seria uma boa ideia. Ora não existindo as principais estações - Leixões que dá o nome à linha - e São João que concentra milhares de possíveis utilizadores é normal que a linha não resulte muito bem. Entre São Mamede e Ermesinde é compreensível que não exista muito movimento. Ainda para mais, nesta zona da Asprela, as linhas de comboio e de metro estão tão perto que uma estação intermodal com comboios, metro, STCP e autocarros das carreiras faria todo o sentido. Adiante.

Já mais próximo do sonho que da realidade e ainda sobre o pólo universitário da Asprela, sinto que existe no Porto a falta de um grande campus universitário, um verdadeiro campus à moda Inglesa, temos as faculdades e universidades todas espalhadas pela cidade com muito poucas sinergias entre elas. Um sítio com bons transportes como atrás já falei, com residências universitárias (prédios não faltam) e onde se pudessem concentrar serviços e espaços universitários comuns de forma a aproveitar todo o potencial contido nas nossas faculdades. Muitas já estão lá, o metro também, a linha do comboio não anda longe e autocarros também abundam, falta sim fazer muita coisa, mas não já falta tudo.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Crónica de um dia difícil

O Benfica voltou a perder com o Porto na Luz, desta vez na meia-final da Taça e já não vamos ao Jamor. Dos dois grandes espanhois nenhum me agrada muito mas num Real-Barça tendo sempre para os segundos. Também perderam já no prolongamento. Resta-me esperar que o meu Utd faça mais uma época memorável, tomara.

Noutros campos, o PS de Sócrates aparece à frente do PSD de Passos pela primeira vez. Fico assustado, muito assustado. Não temos alternativas, a escolha neste momento parece ser entre ficar com a bosta que temos ou com outra igual. Ainda assim preferia variar na mediocridade. O rumo que isto está a tomar é ao mesmo tempo preocupante e inspirador, não hão de faltar coisas para mudar e melhorar quando a nossa geração chegar, estejamos à altura. 

Isto destruiu-me o dia, mas nem tudo são coisas más. Comecei ontem a jogar Shogun Total War II e, apesar de o jogo não ser nem metade do que todos dizem, fiquei fascinado com a cultura Japonesa. Nunca liguei muito, sempre imaginei o Japão como arranha céus, robôs, e pessoas hiperexcitadas com cabelos estranhos. No jogo aparece uma faceta totalmente diferente coma algumas passagens de textos bastante inspiradoras.

Talvez devido a estas inspirações orientais hoje ao voltar para casa do treino (estava bom tempo) apercebi-me de como as nossas casas nos isolam do Mundo. É a função delas é certo, proteger-nos dos elementos e de outros perigos, mas em épocas de bom tempo urge ter em casa espaços de abertura com o mundo exterior. Cada vez mais sinto como é importante ligarmo-nos a um todo maior que nós e não nos isolarmos nos nosso pequenos nichos fortificados.

Enquanto escrevo isto, vejo um daqueles filmes tradicionais sobre a Páscoa e os últimos dias de Jesus, e não deixo de pensar que orador fantástico ele devia ser. Será que alguma vez sonhou nas repercussões que a sua vida e morte iriam ter? E seria possível algo semelhante aparecer agora?

Não sei, ninguém saberá, são só perguntas tolas como tolo foi o dia de hoje. Melhores haverão, é por isso que existem dias maus, para podermos ter os bons.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

da Política e outras Coisas

Não sei se é um fenómeno exclusivamente Português ou se, como quase tudo, é importado do estrangeiro, mas existe entre nós uma clara tendência institucional de tentar parecer o mais neutral possível em temas considerados "complicados". No ensino, em particular, conseguimos ser tão neutrais por exemplo a falar de política que ela nem consta de nenhuma disciplina dos programas dos ensinos ditos básico e secundário. De facto mais neutralidade seria impossível.

A política da neutralidade é como a neutralidade na política: a alternativa fácil para quem não se quer comprometer. Há sempre quem diga que já temos Estado a mais, posso estar de acordo, mas não na tarefa de educar os jovens. As famílias no geral não estão muito bem preparadas para a tarefa. Também não é raro ouvir-se perguntar, 'que raio tem o estado a ver com os valores dos meus filhos', ora tem e tem muito! Ninguém deve querer saber se os jovens acreditam nas privatizações ou não, mas deviam acreditar que só com diálogo e respeito se avança neste Mundo, também não deve interessar ao Estado se eles preferem a contenção do desemprego ou do défice, mas não lhe pode ser indiferente a noção de que somos todos iguais na nossa humanidade ou de que a justiça é um valor que se sobrepõe ao 'dar mais jeito'. Pode parecer desnecessário e óbvio tudo o que estou a dizer mas é que nem sempre é isto que vejo os pais a explicarem aos seus petizes quando ando de comboio. São essas viagens que mais me fazem desconfiar da capacidade das famílias em educar as futuras gerações. Chega a ser assustador!

A escola, pelo menos a que eu tive, não ensina a ninguém em que é diferente um Presidente de um Primeiro Ministro, porque temos cinco partidos na assembleia e não seis ou só quatro, porque é que uns se sentam à direita e outros à esquerda. São noções tão perigosas como estas que os nossos pedagogos algures lá no ministério tanto se esforçam por impedir que cheguem à nossa juventude.Durante décadas, perdão séculos, vivemos mergulhados no obscurantismo, excluídos da evolução europeia e, agora que em todos os domínios temos condições para sermos melhores e sabermos mais, limitamos logo a partida toda uma vastíssima gama de conhecimentos. Poderão dizer que é apenas especulação, até porque está na moda, mas ninguém me tira da cabeça que, uma geração educada a conhecer a política, a Politica, desculpem, a discutir valores e a ter aulas de coisas que vão ser fundamentais para sua vida adulta, seria uma geração mais capaz e mais preparada. Pelo menos se as aulas de história fossem bem dadas o partido comunista não tinha membros com menos de 60 anos...

"Mas - interrogar-se-ão alguns - e as noções de finanças e economia, o básico de alimentação e saúde, a importância do voto, os valores de tolerância, honestidade [logo este!] e justiça? Não me digam que vão ensinar isto às pobres crianças!" .

Não, não vão, por acaso existiu ou existe uma disciplina de Formação Cívica mas não tem propriamente programa e serve para acabar os TPCs de Matemática, descanse.

sábado, 2 de abril de 2011

Acreditemos.




Porque não podia deixar de ser nesta altura de (mais um!) renascimento deste blog.

RolePlayingGames

Existem duas ideias que têm uma gigantesca influência na minha maneira de pensar e de idealizar o Mundo. Não sei se já terão jogado algum RPG, são aqueles jogos em que basicamente, muito basicamente, se começa com uma personagem fraquinha que vai matando maus fraquinhos e assim subindo de nível ou capacidades até se tornar muito forte e matar maus muito fortes. Muitas vezes também não é só uma personagem mas um conjunto delas com características bastante diferentes que se podem combinar resultando numa 'party' muito forte onde cada um contribui com o que tem de melhor.

Ora bem destes jogos, que eu joguei com uma voracidade assustadora, ficaram-me estes dois conceitos: a importância de ir crescendo através de algum tipo de actividade (matar monstros, estudar, criar projectos, é tudo muito parecido) e a capacidade que um grupo tem de ser tornar muito mais do que qualquer dos seus membros conseguiria por si só (ninguém mata bosses sozinho!).

Assim, é-me extremamente cara a ideia de reunir à mesma mesa o arquitecto e o psicólogo , o professor e o advogado, o médico e o economista, o político e o matemático, o sociólogo e o engenheiro e dizer-lhes: "É hora, vamos fazer alguma coisa!".

Estou pronto para uma dungeon, quem vem?


Compreensivelmente: Natal (recuperado)

Este Natal recebi um candeeiro, o meu, meu primeiro candeeiro. Ele é bonito, bastante articulado, todo ele prateado a fazer de espelho, antigo num estilo sofisticado. Não sabia que o ia saber, foram os meus pais que o escolheram e me ofereceram. Fiquei contente por ver que depois de tantos anos ainda me conhecem. Foi um pequeno Natal o meu candeeiro.

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Eu tenho um amigo que tem um primo que tem um amigo que hoje, enquanto se despedia dela pelo telefone estava a sintonizar um rádio antigo. Quando acabou de falar aconteceram duas coisas espantosas. Estava incrivelmente feliz, não por ter desligado, mas por ter desligado e continuar a falar com ela. Como ele estava feliz, tão feliz que se deu a segunda coisa incrível. Mal desligou começou a dar uma musica qualquer, quando o meu primo me contou já não se lembrava de qual mas o que consta e que o rapaz ficou de olhos fechados e rádio a tocar a dançar e a dançar que nem um doido pela velha casa sozinho. É um pouco Natal quando alguém dança tão despudoradamente por alguém.

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E quando tudo estava a correr exactamente como Ele queria, sentiu-Se subitamente triste e perdido e expulsou-os do paraíso. Se não fosse por isso não havia Natal.




Mãos



Por favor por a música a tocar.

Carecemos de Grandes líderes. Haverá pior escassez que a de lideranças capazes? Nos anos precedentes e naqueles que consigo prever encontram-se muito poucas figuras com poder e desejo de ser mais, de ir além, de, de facto, mudar o Mundo. Não que o Mundo me preocupe, não faltam nele pessoas geniais, preocupam-me este bocadinho minúsculo de Mundo que é Portugal e aquele bocado, já maior, que é a Europa. Tanto num como noutro sempre foi a necessidade a Mãe de todos os grandes projectos: a fome a miséria de um país pequeno que nos empurraram para o Mar, e a guerra e a destruição que nos conduziram à União. Agora perante todos os perigos assusta-me pensar em quem temos ao leme destes frágeis cascos. Mais do que nunca quem nos governa tem como maior experiência anterior a militância partidária, são seres sem cor, vazios de ideias próprios apenas experientes na arte da retórica oca. Fossem todos os actuais líderes políticos mudos e talvez tudo estivesse bem melhor. Escutemos.

Tempos houve, e tempos hão de haver, em que havia quem visse mais, quem num país fechado e entristecido via a liberdade, quem num continente devastado por duas Guerras indescritíveis visse a paz e a união de todos esses povos. Hoje vivemos dias de uma só escolha, que sempre nos apresentam como menos má. O medíocre é melhor que o mau, e assim nos convencemos de que é isto que há, é o possível, e pedir mais é obter menos. Ah! Precisamos de gente mais inquieta, de quem saiba do que fala, de quem seja irreverente nas ideias e arranje alternativas. Inquietemo-nos.

Eu não sei como é, mas imagino que se soubesse teria saudades de um país à frente do seu tempo, pequeno, pequeno, mas a liderar nas ideias e na sua concretização, um país que não importasse desde os cereais aos códigos civis e modelos de educação. É claro, é óbvio que temos, devemos ver o que os outros fazem e aplicar as melhores práticas em tudo, há que a aproveitar o Mundo globalizado ao máximo, o problema é isso ser um pretexto para não fazermos cá nada. Imaginemos.

Cada vez que saio de casa, que ando de comboio ou autocarro, que passeio a pé mais demoradamente por algum sítio, me encho de convicção que está ali algo por aproveitar, que existe potencial à espera de ser descoberto, coisas prontas para se fazerem. Tantas casas a cair, tantos campos vazios, tantas histórias para contar, tanto, mas tanto para construir! E tanta gente, tanta tanta gente, que o podia estar a fazer. Há falta de imaginação, iniciativa e de coragem nestes tempos. Façamos.

Que quero eu dizer? Eu acredito, e acredito firmemente, que seremos nós a fazer a mudança. Que de entre nós saíram os futuros líderes, todos sabemos, já nos disseram vezes sem conta. O que nos devia preocupar a todos, é de que fibra seremos quando lá chegarmos. Seremos iguais, piores até do que o que temos agora? Está realmente nas nossas mãos essa escolha, neste momento, em que temos muito pouco poder para mudar seja o que for possuímos algo muito mais raro e valioso, temos tempo. Tempo para nos prepararmos, para aprendermos, para nos formarmos e nos educarmos, para ganharmos conhecimento e capacidades, a forma como usamos estes anos que temos é que vai definir quem seremos. Grandes líderes carecem-se. Tornemo-nos.