segunda-feira, 17 de maio de 2010

Inacabados

Por um motivo ou outro não acabei (ainda) estes textos, ficam aqui não propriamente para alguém os ler mas para que eu não me esqueça que existem.

1. Não gosto muito da paisagem da minha terra. Demasiado eucalipto. Às vezes penso que talvez não seja questão de não gostar, talvez já me tenha habituado e apenas me tenha esquecido de como se percebe a beleza que está lá. Mesmo no meio de tanto eucalipto expatriado. Sinto que acontece muito isto. Habituamo-nos a algo e não é que deixemos de amar as coisas simplesmente nos esquecemos que as amamos e precisamos de as deixar para que recuperem a sua beleza aos nossos olhos. Assim ao viajante tudo é belo, nada o cansa, pois a nada se habitua.

2. Um tal amontoado de ratos não podia viver todo junto! Teriam por certo os seus vários líderes e, quem sabe, estar organizados em tribos. Haveria provavelmente o rato chefe, talvez o mais avantajado em tamanho ou aquele com bigodes mais exuberantes. O rato soldado, tremendamente aguerrido e ameaçador. O rato padeiro, cheio de farinha e com os bigodes queimados do forno. O rato advogado, de olhos argutos e discurso rápido, fino e quem sabe enganador. E até o rato mendigo, rato do lixo, o exlíbris da espécie, o rato do esgoto!

3. Entao, era uma vez, há muitos muitos anos, uma floresta imensa e muito muito antiga perdida num canto esquecido do Mundo. Ora nessa floresta moravam grandes e sábias árvores que cobriam todos os montes e vales desde que o Mundo era Mundo. Uma dessas árvores, e a que nos interessa mais era o grande Carva, ancião entre os anciãos, respeitados por todos quantos admiravam a sua bela copa. Ora o grande Carva vivia numa alta encosta de onde tudo via e tudo podia escutar e assim ele fazia todos os dias desde que viera da sua semente. Era aqui que residia um dos seus problemas. Na sociedade das árvores todas elas eram muito meticulosas no registo de cada uma das suas sementes, mas dele, logo dele ninguém sabia. Todos os anos no Verão, quando chegavam as grandes águias vindas de terras distantes, ele perguntava-lhes se conheciam uma árvore como ele, de tronco imponente e folhas tão respeitaveis. Mas as águias do alto da sua visão diziam-lhe que não, só ele tinha tal tronco e nenhuma outra em nenhum lado tinhas folhas daquele calibre.