domingo, 14 de junho de 2009

Facções ao som de blues

Na minha passagem por Titulia, como já antes referi, pude aprender bastante e de entre outras coisas assisti a várias discussões entre americanos sobre a sua constituição. Eu duvido que a maior parte de nós Portugueses conheça a nossa, mas eles lá nos States conhecem-na adoram-na e conseguem debatê-la de uma forma assustadora, ou admirável. Tenho de reconhecer que depois de uma pesquisa rápida na wikipédia, essa grande fonte de conhecimento que consulto regularmente, é fácil ganharmos algum apreço aos velhinhos Founding Fathers, que no fundo e simplificando o que entendi, foram os homens que participaram na independência americana e na formulação da constituição. Por muitos defeitos que eventualmente lhes possam apontar, eu não conheço nenhum neste momento, partilho com eles a ideia da associação de pessoas em torno de um objectivo maior que é alcançado. Acho que o pólo aquático criou em mim o misticismo do grupo e da equipa.

Bem mas isto vem a propósito de quê? É que hoje perdi-me em blogs e jornais e fóruns a ler o que diziam os Portugueses das coisas do mundo e do país, desde os mais anónimos até àqueles que escrevem livros e comandam partidos.

Foi tal o estado de desilusão em que fiquei que tive de por uns blues a tocar. Ao som de blues até as maiores desgraças humanas ganham uma dimensão de beleza trágica. As palavras que uma vez li em Titulia a propósito das facções vieram-me à cabeça. Acho que foi Madison que avisou para o perigo das facções dentro da República e depois explicou como esse perigo devia se combatido. Pelo que percebi dos americanos, e nisto sim tiveram mérito, a sua constituição não prevê partidos, não os refere. Claro que agora vivem numa situação de dois partidos, mas este post não visa a política ou a história americana, isto serve apenas para citar o aviso de Madison quanto às facções definidas por ele como: "...a number of citizens, whether amounting to a majority or a minority of the whole, who are united and actuated by some common impulse of passion, or of interest, adversed to the rights of other citizens, or to the permanent and aggregate interests of the community."

Ora na minha deambulação blogosférica o que encontrei foi um mundo tribal, um qualquer jogo de estratégia cheio de pequenas naçõeszinhas prontas em lutar por só por si e fazer guerra às vizinhas. Isto há blogs de direita que falam mal de tudo, blogs de esquerda que de tudo falam mal e blocos de centro que não falam bem de nada, mas falam. Os advogados só falam de saúde, os médicos falam de leis, quanto menos se sabe mais se fala. Fosse o turbilhão de palavras e teorias apagar o desconhecimento das coisas e viveríamos bem melhor pelos lados lusos. E, pelo que hoje li seria de pensar que a Etiópia nos ultrapassou em todos os índices de crescimento. Depois é tanta parcialidade, ai de nós! Ai a parcialidade, a tendenciosidade, o partidarismo, o facciosismo! Morram todos pum! PUM! PUM! PUM! PUM! Oh baby shot them DOWN!

Desculpem mas já me sinto muito melhor. Dizia eu, vivemos mergulhados em pequeninos enclaves, algumas até individuais que sobrevivem apenas no "bota-a-baixo". Se me permitem, deixei de acreditar em alguém até analisar bem a sua biografia completa. As pessoas não sabem ser isentas porra. E sem isenção, deixa de haver coerência e sem coerência não há coisa nenhuma. A direita diz que a culpa é de um governo de esquerda, a esquerda diz que a culpa é de um governo de centro, o governo diz que a culpa é da conjuntura, que no fundo está tudo bem, os monárquicos dizem que nunca estivemos tão mal e que "Sua Alteza Real Dom Duarte de Bragança" é que vai pôr tudo na ordem. Deus nos valha! Ou deuses ou os espíritos da montanha ou o que seja!

Não pode a direita admitir que tem culpas, a esquerda que culpas tem e governo que fez coisas boas e más? Não podem os pessimistas propor soluções, os optimistas mostrar trabalho e os monárquicos cortarem na numismática de Sua Alteza? E já que estamos numa pedir, não podiam o Vasco Pulido Valente e o Miguel Sousa Tavares fazer menos barulho a brincar aos senhores crescidos que (eles é que) sabem das coisas?


Não estamos já todos fartos de novos semi-deuses?

Valha-nos o blues. E já agora o reggae.




6 comentários:

  1. O gordo do BB King é que devia ser rei. Depois faziam uma enorme colecção de moedas e selos com as caras que ele faz a tocar a "Lucille"

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  2. Não, porque então não teríamos de que nos queixar, esse direito constitucional inalienável :) e era tudo uma massa amorfa e sorridente, tipo produção em massa de cavacos silvas. Mas tens razão: assumir a culpa valorizaria o discurso político - infalibilidade e opiniões irredutíveis (princípios já seria outra conversa) não são o que espero dos governos.

    A constituição americana é um sucesso de linguagem e de poder de síntese. Cheia de falhas, mas uma coisa não é: poeirenta. Só não percebo como falam tanto nela, e não viram no patriot act uma violação clara à 4th amendment (acho eu), pelo menos.

    Essa do Madison e das facções não é sempre verdadeira. Eu e muitos outros somos contra os interesses e a liberdade pessoal (que frequentemente usam para chantagear o Estado) do Belmiro de Azevedo e do Ricardo Salgado. E que os títulos de nobreza possam ainda ser arvorados. Tirem-me a possibilidade de me juntar para os lixar legalmente, aí sim, fujo para Cuba. Eh, eh

    P.S: os blogs de fundo preto são o mais próximo a um Moleskine digital

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  3. Eu que já colecionei selos ia ter traalho para os conseguir arranjar a todos xD

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  4. Nós temos sempre do que nos queixar, feliz destino humano que o Lord lá de cima nos deixou. E havia sempre o futebol e as artes e tudo o que nos faz feliz quando vamos de férias para cantos remotos e inalcançáveis onde nem o Progresso de Paredes, jornal distribuído até nos confins do pantanal brasileiro, chega. Um governo infalível exigiria um povo infalível também coisa que também não existe ainda. Tenho de por os 'ainda', pois não são eles que nos animam?

    Isso do patriot act acho que se podia alegar que foi sob forte coação, não faltam para aí filmes mais ou menos credíveis que mostram como ele foi aprovado com todo aquele clima de medo e ameaça terrorista. A all-wise-wiki confirma que é a 4ª emenda.

    As facções, para mim são partidos, não gosto deles, até estou na moda e tudo por isso, são grupos que, diria eu, não vêem para além de si. Fechados em torno de interesses, ideologias ou convicções recusam-se a olhar em volta e em fazer parte do todo. Existe uma tradição em vários discursos de tomada de posse em que se diz "serei o presidente (ou PM ou o que for) de todos e não dos que apenas votaram em mim". Só palavras mas com sentido.

    O objectivo de qualquer ‘facção’ deveria ser o bem da maioria sem detrimento das minorias. Desde que se seja objectivo e realista que se defenda o que se quiser. Acho que estou a ficar como os Dias, limitado a certas palavras-chave, mas elas surgem tão óbvias e tão esquecida dos grandes do mundo…

    Quanto a isso de ser contra os interesses de alguém acho que não é a melhor das frases. Ser contra interesses que violam outros interesses (os dos mais desfavorecidos ou os das pessoas honestas e comuns por exemplo) isso sim! Posso ser contra o Belmiro por que acho que ele paga poucos impostos, manipula, faz jogadas duvidosas, paga mal aos empregados, e tudo isso, mas nunca seria pelo facto de ser rico, isso não, já me aproximaria de mais de um dos vértices perigosos do losango.

    Isto já está grande de mais, mas só para dizer que os moleskine têm páginas brancas ou beges vá.

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  5. Sim, eu sei, só que o preto que envolve as letras brancas funciona da mesma forma. É intimista, fecha sempre alguma coisa. Era esse o sentido.

    O progresso de paredes é assim tão lido? Ou sou eu que vivo num lugar inalcançável (um dia publico uma foto do meu vale)

    O Madison dizia que o indivíduo tinha de ser protegido da "tirania da maioria". Era mais a isso que me referia. A individualidade é um bem a preservar (por isso eu abomino o maoísmo), mas só até ao limite em que interfere no interesse da maioria. É um chavão que faz, e é sentido. A riqueza obscena, o fazer dinheiro por vício, às custas da enésima venda da alma ao demo e do trabalho alheio é por si só motivo de revolta. Eu acabo sempre por estar numa ponta do losango.

    Eu também acho que o espaço de intervenção executiva/legislativa deve ser alargado para fora dos partidos. Chamem-me o que quiserem, mas as assembleias populares, como as que se realizam na vila de um alcaide comunista em Espanha, fazem todo o sentido; mas desde sempre que aqueles a quem o poder interessa vivamente se ocuparam a deseducar o vulgo; hoje é sobretudo pelo desinteresse e pela futilidade alarve que o "sistema" aguenta sem muitos solavancos. Eu não acho as ideologias castradoras; e é por isso que alguns partidos importam.

    O problema é que o "objectivo e realista" nunca será entendido de maneira igual. Mais, não será respeitado. Provavelmente é um atributo da espécie: tendemos para a cacofonia.

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  6. Ainda assim não gosto do dark side of the force :P.

    Não não, é um jornalzinho da terra mas que é lido no Brasil por emigrantes. Algum poderá ser do pantanal, ninguém para já pode negar.

    Eu não sei se estamos a falar do mesmo losango mas as pontas do meu são lugares perigosos. Como tendem a ser os extremos. A tirania da maioria é algo que faz bastante sentido assim como a mais comum ditadura da minoria, podendo esta ser quase de um único individuo.

    Quanto à parte mais ideológica e talvez económica assusta tanto o discurso de ataque ao chamado grande capital como o de ataque ao pobre pé rapado. Se é certo fazer dinheiro à custa de almas vendidas ao demo é reprovável já não vejo como pode a riqueza ser obscena. A pobreza sim tem esse poder, a riqueza quando justa, não. Sim, justa é relativo, mas punir riqueza por punir não faz sentido.

    Não conheço a ideia das assembleias populares, mas tenho ouvido várias propostas para que os deputados, eleitos por zonas do país tivessem de se reunir com as pessoas dessas zonas de forma regular.

    Objectivo e realista é, ao contrário do que se crê fácil. É claro que quando queremos resolver X podemos usar Y ou Z e isso é objectivo, o que não é é a escolha e aí estão os peritos e depois o povo para o fazer.

    Preocupam-me tanto a ganância dos grandes como a dos pequenos, que nós sendo feitos tão diferentes, acabamos todos iguais, culpa Dele que nos criou à sua imagem e semelhança.

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