sexta-feira, 26 de junho de 2009

1h

Falta uma hora, as sete saio de casa e vou a pé até à rotunda para apanhar boleia para o treino de onde volto cansado mas feliz. Cansado mas feliz podia ser o lema deste ano não fossem as épocas de exame. Nessas não me canso, pelo menos não no mesmo sentido, nem sou feliz. Não sou nada aliás.
Falta uma hora, uma hora inteirinha e já decidi que não estudo mais. Já chega, já estudei o apropriado para um dia cheio de Sol e com brisa agradável, acho até que já estudei demais para um dia destes. E também já lanchei.
Cinquenta e oito minutos. Os deuses ou lá o que são não prestam. Passo um ano a queixar-me da falta de tempo, de como queria fazer isto e aquilo, de como queria dormir (quanto eu gostava de ter tido mais uma hora de sono às quintas!) e agora é que me dão tempo! Sacanas, haviam todos de morrer, morrer sendo humanos primeiro e tendo humanos a controlar o seu destino como eles nos controlam a nós. Sacanas!

O estudo definha-nos. Ou pelo menos este tipo de estudo. Ou talvez a culpa seja de mim ou do meu método. A questão é que me sinto a definhar a cada dia. Como um homem enterrado vivo, cada dia mais seco, mais magro, mais sugado, mais morto. Agora nem sei o que fazer com uma hora, uma hora!, toda só para mim. Fico na cama onde estava a estudar a olhar para as paredes, desapegado de tudo, desinteressado por tudo, cativado apenas por memórias de outros tempos. Sim por que isto dos exames dura um mês, mês e tal, mas eu pelo menos, entro numa dimensão espacio-temporal pararela onde cada movimento, pensamento, desejo (ainda os terei?) duram éons, e vemo-nos e sentimo-nos esgotados a cada repetição.

Porra para isto tudo, ainda há uma semana estava tudo tão belo. Não dirias pois tu, Rafa, que estava tudo tão belo? Estava não estava? Eu também acho que sim.
Agora não sei o que fazer com uns malditos cinquenta minutos. Por que eu faria qualquer coisa, noutro dia, noutra situação, estivesse eu de férias e até os mandava, vá jogava, fora a a ver televisão e programas da tarde ou a apanhar Sol com música. Mas agora não. Ler não. Televisão não. Estudar...esqueçam. Passear não. Lanchar já está. Conversar? Mas com quem??, isto do estudo é uma vala individual, bem melhores seriam as comuns ao menos tem-se com quem falar. "Então como vai a senhora? Eu já tenho a perna toda carcomida de bicho e a senhora já resolveu o problema dos escaravelhos no cérebro? Essa minhoca ao pescoço fica-lhe tão lindamente, combina que é uma beleza com os restos de pele seca! A minha Maria noutro dia apareceu-me com um fígado pobre que até dava vontade fritar". Ah eram tão melhores as valas comuns. Mas não.

Tou farto desta porra toda e ainda não fiz nada. Tou demente e ainda me falta quase um mês. Um dia sem ver gente e dou em doido. Acho que quem problemas de escaravelhos sou eu, mas de qualquer maneira já só faltam quarenta minutos por isso sinto-me muito melhor.

Acho que tenho de destacar que a importância de aprender informática médica é a de comuncar com os informáticos que criam os nossos sistemas médicos. Eu não os conheço mas aposto que os vou impressionar com os meus conhecimentos de encriptação de dados e sistemas de apoio à decisão. Ah, e sabiam que o olho humano não detecta contrastes (ou seja não sabe quando está na presença de trastes) abaixo dos 3%? Fascinante mundo da introdução à medicina.

Tou completamente, mentalmente, incontrolavelmente e irritantemente descompensado.

Pronto é isto.

35 minutos nada que não se aguente... E ainda não justifiquei o texto.

1 comentário:

  1. "Conversar? Mas com quem??, isto do estudo é uma vala individual, bem melhores seriam as comuns ao menos tem-se com quem falar."

    Eu acho que devias escrever isto no exame para eles saberem como intromed nos deixa dementes.

    Ag a sério, que raio de coisa para se dizer Miguel Teixeira! Conversar está a uma mensagem de distancia ;)

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