quarta-feira, 6 de abril de 2011

da Política e outras Coisas

Não sei se é um fenómeno exclusivamente Português ou se, como quase tudo, é importado do estrangeiro, mas existe entre nós uma clara tendência institucional de tentar parecer o mais neutral possível em temas considerados "complicados". No ensino, em particular, conseguimos ser tão neutrais por exemplo a falar de política que ela nem consta de nenhuma disciplina dos programas dos ensinos ditos básico e secundário. De facto mais neutralidade seria impossível.

A política da neutralidade é como a neutralidade na política: a alternativa fácil para quem não se quer comprometer. Há sempre quem diga que já temos Estado a mais, posso estar de acordo, mas não na tarefa de educar os jovens. As famílias no geral não estão muito bem preparadas para a tarefa. Também não é raro ouvir-se perguntar, 'que raio tem o estado a ver com os valores dos meus filhos', ora tem e tem muito! Ninguém deve querer saber se os jovens acreditam nas privatizações ou não, mas deviam acreditar que só com diálogo e respeito se avança neste Mundo, também não deve interessar ao Estado se eles preferem a contenção do desemprego ou do défice, mas não lhe pode ser indiferente a noção de que somos todos iguais na nossa humanidade ou de que a justiça é um valor que se sobrepõe ao 'dar mais jeito'. Pode parecer desnecessário e óbvio tudo o que estou a dizer mas é que nem sempre é isto que vejo os pais a explicarem aos seus petizes quando ando de comboio. São essas viagens que mais me fazem desconfiar da capacidade das famílias em educar as futuras gerações. Chega a ser assustador!

A escola, pelo menos a que eu tive, não ensina a ninguém em que é diferente um Presidente de um Primeiro Ministro, porque temos cinco partidos na assembleia e não seis ou só quatro, porque é que uns se sentam à direita e outros à esquerda. São noções tão perigosas como estas que os nossos pedagogos algures lá no ministério tanto se esforçam por impedir que cheguem à nossa juventude.Durante décadas, perdão séculos, vivemos mergulhados no obscurantismo, excluídos da evolução europeia e, agora que em todos os domínios temos condições para sermos melhores e sabermos mais, limitamos logo a partida toda uma vastíssima gama de conhecimentos. Poderão dizer que é apenas especulação, até porque está na moda, mas ninguém me tira da cabeça que, uma geração educada a conhecer a política, a Politica, desculpem, a discutir valores e a ter aulas de coisas que vão ser fundamentais para sua vida adulta, seria uma geração mais capaz e mais preparada. Pelo menos se as aulas de história fossem bem dadas o partido comunista não tinha membros com menos de 60 anos...

"Mas - interrogar-se-ão alguns - e as noções de finanças e economia, o básico de alimentação e saúde, a importância do voto, os valores de tolerância, honestidade [logo este!] e justiça? Não me digam que vão ensinar isto às pobres crianças!" .

Não, não vão, por acaso existiu ou existe uma disciplina de Formação Cívica mas não tem propriamente programa e serve para acabar os TPCs de Matemática, descanse.

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